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Aos dois anos, João viu pela primeira vez o pai fora de quatro paredes

Nuno nunca tinha visto os filhos correr

Quando uma mãe ou um pai é condenado a pena de prisão efectiva

há uma sentença paralela, muitas vezes invisível: a dos filhos

Do outro lado do muro

Ser pai na prisão é um desafio. Ser filho em liberdade não é menos desafiante. Em Coimbra, 17 crianças tiveram uma oportunidade única que pode ditar o futuro das visitas entre pais e filhos nas cadeias portuguesas.

Miguel foi o primeiro a chegar à Rua de Tomar e aguarda com a mãe a abertura do portão

Um grande rectângulo num alto muro de pedra

O pai está preso há seis anos, os mesmos que Miguel tem de vida

Não tem memória de o ver fora das quatro paredes do parlatório, o habitual espaço de visitas

Isso está prestes a mudar

Pela primeira vez em Portugal, uma prisão de alta segurança recebe crianças num campo ao ar livre para um jogo com pais, avós e bisavós reclusos

Do outro lado do muro, a guarda prisional Esmeralda guia as famílias até ao local do encontro

No caminho reconhece Rafael, quatro anos, e lança-lhe uma pergunta

Vens ver quem?

Ver o pai, brincar. É diferente.

Não se sabe ao certo quantas crianças portuguesas vivem afastadas dos pais por reclusão

Mas, segundo as estimativas da rede europeia Children of Prisoners Europe, em Portugal cerca de 15 mil crianças têm um pai ou mãe presos

Na União Europeia serão 800 mil crianças

Mais de dois milhões em toda a Europa

Ricardo, 12 anos, não pregou olho na noite anterior

Não conseguia dormir, porque eu queria ver o pai

Durante o breve intervalo do jogo partilha um desabafo, enquanto dirige o olhar para a mãe

É que ela tem as visitas privadas e eu não

O Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisionais prevê uma visita íntima mensal

Estas visitas têm uma duração máxima de três horas, superior ao limite de duas horas semanais de visitas pessoais regulares

E decorrem em instalações adequadas, com garantia de privacidade

Mas estão previstas apenas para “cônjuges”

Os filhos não beneficiam do mesmo direito

Desta vez puderam abraçar e beijar os pais e avós sem barreiras físicas

Brincaram e receberam colo

Durante algumas horas, deixaram de sofrer a consequência de um crime que não cometeram

A ausência dos pais

Ficha técnica